segunda-feira, 1 de março de 2010

Violação a toque de recolher deixa 1 morto e 160 presos; mortos no Chile chegam a 723

A zona mais afetada pelo terremoto que abalou o Chile teve a primeira noite de toque de recolher, decretado pelas autoridades após os saques e o desespero dos habitantes, que começam a sofrer com a falta de produtos de primeira necessidade. Pelo menos uma pessoa morreu e 160 foram detidas por não respeitar o toque de recolher, anunciou o subsecretário do Interior, Patricio Rosende. O número de mortos pelo terremoto no chile subiu para 723 pessoas na tarde desta segunda-feira (1). Pelo menos 19 pessoas estão desaparecidas.

A morte pela violação ao toque de recolher ocorreu em Chiguayante, na periferia de Concepción. "Houve alguns disparos. A força policial tomou o controle dessa zona, houve uma morte, mas não houve saques contra imóveis comerciais ou residenciais", afirmou Rosende.

O toque de recolher de nove horas teve início às 21h locais (mesmo horário de Brasília) em Concepción, que fica 500 km ao sul de Santiago, uma das áreas mais afetadas pelo tremor e que no domingo vivenciou muitos saques a grandes lojas e supermercados.

A polícia teve que intervir com gás lacrimogêneo e jatos d'água para dispersar as centenas de pessoas que invadiram os mercados para levar alimentos, além de outros produtos, como máquinas de lavar roupa e aparelhos de TV de plasma.

As cenas levaram a presidente Michelle Bachelet a anunciar que garantiria a entrega gratuita de todos os produtos de primeira necessidade nas zonas afetadas, em particular em Concepción.

Após o início do toque de recolher em Concepción, os militares foram mobilizados pela cidade e as ruas ficaram vazias. Apenas poucas pessoas ficaram do lado de fora de suas casas e, com medo de entrar, acenderam fogueiras.


"Recomendaria aos delinquentes que não se metam com as Forças Armadas. Vamos agir com rigor, mas dentro da lei", afirmou no domingo o comandante militar da região, Guillermo Ramírez.

Este é o primeiro toque de recolher decretado no Chile 20 anos após a queda da ditadura de Augusto Pinochet.

"Não é roubo, é desespero", disse uma mulher na saída do supermercado Líder, no centro de Concepción, enquanto carregava caixas de leite e outras mercadorias nas mãos.

Na região vizinha de Maule, que registra a maioria dos mortos e desaparecidos, o toque de recolher não foi adotado, já que as autoridades consideraram a situação sob controle, segundo o general Bosco Pesse.

Nas partes costeiras de Concepción, um tsunami posterior ao terremoto provocou muitos danos, ainda não calculados pelas autoridades. O mesmo aconteceu nas cidades próximas de Talcahuano e Penco.

Em Penco, um cidade de 50.000 habitantes, algas marinhas ainda são vistas nas casas e postes, após a onda gigante que se abateu sobre grande parte da área costeira, arrastando móveis, enquanto em Talcahuano várias embarcações foram arrastadas até a frente de algumas casas.

"A onda chegou e levou tudo. Tinha, acho, seis metros de altura. Derrubou as casas, uma oficina mecânica e os restaurantes", contou à AFP Carlos Palma, ao mesmo tempo que percorria a costa de Penco para tentar achar alguns pertences.

Em Concepción, os bombeiros prosseguem com os trabalhos de resgate de 48 pessoas presas em um edifício inaugurado recentemente, cuja estrutura veio abaixo. Oito corpos já foram recuperados.

O aeroporto de Santiago começou a receber voos internacionais, que haviam sido suspensos depois do terremoto. As autoridades disseram que as pistas ficaram ilesas, mas que o terminal foi danificado.

Mais três tremores de 5 graus
Depois do terremoto de 8,8 graus que abalou o Chile na madrugada do último sábado (27), o país foi atingido na noite deste domingo (28) por três novas replicas de mais de 5 graus de magnitude na escala aberta de Richter, segundo o Instituto Geológico dos Estados Unidos (USGS).

Os tremores foram sentidos nas regiões do Maule e de Bío-Bío, as duas áreas mais castigadas pelo terremoto do último sábado. Os dois tremores mais potentes, de 5,8 e 5,4 graus, foram registrados às 22h10 e 23h44 respectivamente, a 95 e 30 quilômetros de Talca, na região do Maule. O epicentro do primeiro foi localizado a 35 graus latitude sul e 72,6 graus longitude leste, a 26 quilômetros de profundidade sob o nível do mar. Enquanto o segundo foi localizado a 35,1 graus latitude sul e 71,7 graus longitude leste, a 42,6 quilômetros de profundidade sob o nível do mar.

"Há um número crescente de pessoas desaparecidas e tenho a certeza de que estes números vão continuar crescendo", advertiu a presidente Bachelet, ao anunciar no domingo o último balanço oficial.

Quase 1,5 milhão de casas foram atingidas e meio milhão não têm recuperação.


Veja depoimentos de brasileiros presos no Chile

Procuramos a Embaixada, mas tivemos dificuldades para ser atendidos - o Consulado também não nos deu suporte. Estamos aguardando orientação de uma diplomata que foi muito gentil e atenciosa. A situação do aeroporto de Santiago é catastrófica. (Ana Soares, de Santiago, Chile)

"Hoje pela manhã procuramos a Embaixada do Brasil, porém as notícias não foram boas, haja visto que o aeroporto está com várias avarias e não há notícias de quando seremos resgatados." (Rafael Bernardes Marchiori, de Santiago, Chile)

Em Santiago, o aeroporto internacional voltou a operar após os danos registrados no terminal de passageiros.

O terremoto também causou a formação de um tsunami no oceano Pacífico, que matou várias pessoas em uma ilha chilena e devastou outras comunidades costeiras da região.

A atuação rápida dos governos, a retirada de dezenas de milhares de pessoas e a cooperação da população permitiu que o tsunami criado pelo terremoto do Chile passasse neste domingo pela Oceania e Pacífico sul sem causar vítimas fatais.

O terremoto deste sábado foi sentido em São Paulo e também nas Províncias argentinas de Mendoza e San Juan. Uma série de abalos subsequentes atingiram a região costeira do Chile.

Ajuda internacional
Michelle Bachelet, que deve deixar a Presidência em 11 de março, anunciou na noite deste domingo que o país irá aceitar a ajuda oferecida por vários países. Ontem, o presidente americano, Barack Obama, disse que o Chile é um "amigo próximo" e que os EUA estão "'prontos a ajudar".

O Japão anunciou uma doação de US$ 3 milhões ao Chile, junto com o envio de tendas, geradores, purificadores de água e outros equipamentos de emergência. A China prometeu US$ 1 milhão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário