Após a enchente que matou dezenas de pessoas e causou enchentes em todo o Estado do Rio de Janeiro, leptospirose, hepatite A e dengue são as doenças que mais devem ameaçar a saúde pública nas próximas semanas. A avaliação é do infectologista Celso Granato, responsável pelo Laboratório de Virologia Clínica da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Em todo o território fluminense, cerca de 100 pessoas morreram em decorrência dos deslizamentos e alagamentos após a chuva da segunda-feira (5). A prefeitura da capital pediu aos cariocas que ficassem em casa e previu que em algumas áreas da cidade, como Jacarepaguá, na zona oeste, os trabalhos de limpeza e drenagem poderão levar mais de um mês. A expectativa é de mais chuva na quarta-feira (7).
Para Granato, a leptospirose é mais preocupante em curto prazo, enquanto a dengue deve causar problemas no Estado por muitos meses. “A leptospirose vai preocupar enquanto houver enchente, porque os ratos não vão voltar para suas moradias até acabar. A dengue é algo que vai ficar no ar por meses e meses, porque serão gerações de mosquitos contaminados nascendo uma atrás da outra”, disse ele ao UOL Notícias.
O especialista em virologia afirmou que os ratos devem voltar a suas habitações, muitas delas nos bueiros, assim que a água baixar. Enquanto isso não acontece, eles estarão desalojados e andando pela cidade. “Quando o rato sai, a leptospirina continua na urina dele. Perto dos humanos, o risco se potencializa”, diz. Ele estimou em um mês o período pelo qual a ameaça dessa doença deve rondar o Rio de Janeiro.
Após o fim dos alagamentos que atingiram o Rio de Janeiro, sobraram toneladas de lama e lixo nas ruas da cidade. Centenas de garis tentavam recolher a lama das calçadas e das pistas com a ajuda de pás. Segundo a prefeitura, cerca de 4 mil garis e mais 1,5 mil servidores da Divisão de Conservação do município trabalham para limpar a sujeira na capital fluminense.
Vários órgãos públicos e grandes empresas, públicas e privadas, também pararam as atividades administrativas ou tornaram o ponto facultativo, porque os diversos pontos de alagamento, em todas as áreas da cidade, impedem o deslocamento de funcionários até o trabalho.
Risco prolongado
Para Granato, que o risco da dengue é “bem mais prolongado”. “O mosquito não tem vida muito longa, mas o mosquito fêmea vai gerar mosquitos que já nascem contaminados. A fêmea passa o vírus para o mosquito que nasce. Com fartura de água parada, o problema tende a ir aumentando aos poucos. É um esforço de extinção dos focos da doença que o poder público vai ter de fazer por muito mais tempo”, avaliou.
Embora seja uma doença em processo de desaparecimento, Granato viu também o risco do surgimento de hepatite tipo A, que surge da ingestão de alimentos e bebidas infectados. “Essa doença está ficando mais rara do que há 20 anos. A melhora econômica e no padrão de higiene acabam deixando mais gente suscetível a esse problema, como seria em qualquer lugar do mundo”, disse o especialista.
No início de fevereiro, o governo federal alertou sobre o risco de epidemia de dengue devido ao retorno do vírus tipo 1, que não circulava havia dez anos. Entre os Estados avisados, está o Rio de Janeiro – os outros são São Paulo, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Roraima, Tocantins e Piauí. Até então, não havia registro de aumento recente nos números da doença no Rio de Janeiro.
No início do ano, quando várias cidades do Rio de Janeiro sofreram com as chuvas, as autoridades de saúde enviaram para a mais afetada delas, Angra dos Reis, 2 mil frascos de hipoclorito de sódio (usado como desinfetante), 40 frascos de soro antitetânico, 5 mil vacinas contra tétano e difteria, além de 100 doses de vacinas contra a hepatite A para serem aplicadas apenas nas equipes de resgate. Esses grupos são os mais expostos aos riscos de contraírem doenças.
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